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  • Foto do escritorJoão Neto

[Livro] Antes de Hitchcock, teve Psicose de Robert Block

Atualizado: 1 de out. de 2022

Em 1957, quando a polícia apreendeu Ed Gein, um faz-tudo de 51 anos do interior de Wisconsin suspeito pelo desaparecimento de uma mulher local, eles descobriram em sua casa um verdadeiro cenário de horror: Móveis confeccionados com pele humana, caveiras em seu criado-mudo, roupas feitas com couro de suas vítimas, sinais de canibalismo e mais restos mortais das infortunadas que cruzaram com seu caminho. O notório serial killer chocou os Estados Unidos com o nível de crueldade de seus atos e influenciou diretamente um dos maiores filmes de terror de todos os tempos, O Massacre da Serra Elétrica (1974), mas antes mesmo do Cara de Couro ganhar vida, Gein se provou como um assustador paralelo de uma obra criada por um escrito americano chamado Robert Bloch.


No mesmo período, Bloch finalizava seu novo livro "Psicose", uma trama de mistério envolvendo uma jovem secretária em fuga que é brutalmente assassinada em um motel de estrada - e a trama de investigação que se seguiria liderada por sua irmã e seu namorado. Lançado em 1959, o livro chamou a atenção de um diretor consolidado que lutou com unhas e dentes para adaptá-lo para os cinemas e ele era ninguém menos que Alfred Hitchcock. Após lê-lo, Hitchcock precisou hipotecar sua casa para conseguir produzir seu novo filme, visto que os estúdios não estavam interessados em financiá-lo. E para proteger o mistério da história, ele comprou todos os exemplares do livro e guardou o segredo a sete chaves, desenvolvendo uma campanha de sigilo para que nem os críticos nem o próprio público estragasse o final para aqueles que ainda não o assistiram.


O resto é história: Psicose foi um sucesso estrondoso de bilheteria, se tornando um dos filmes mais importantes da história do cinema, mas automaticamente eclipsando a obra que o originou. O livro foi um dos primeiros lançamentos da editora DarkSide aqui no Brasil, lá em 2013 e prenunciava o perfil da então novata que se tornou uma queridinha entre os fãs do gênero dentro do país.


“... Mary começou a gritar. A cortina se abriu mais e uma mão apareceu, empunhando uma faca de açougueiro. E foi a faca que, no momento seguinte, cortou seu grito. E sua cabeça.”

No livro, somos introduzidos a dois núcleos que se chocam com o desenrolar dos capítulos. O primeiro é a história de Norman Bates, o dono de um esquecido motel de beira de estrada, prejudicado pela construção de uma nova rodovia que desviou todos os seus clientes. Sua mãe, uma mulher conservadora e extremamente controladora sobre ele, vive doente e reclusa na casa por trás do estabelecimento. O outro núcleo acompanha Mary Crane (no filme, ela se chama Marion), uma jovem secretária que rouba quarenta mil dólares do seu trabalho para ajudar seu namorado a quitar uma dívida. Em fuga da cidade para surpreendê-lo, Mary acaba errando o caminho e é forçada a fazer uma paradinha no Motel Bates. O que vem a seguir é um espetáculo de reviravoltas e suspense criado magistralmente por Robert Bloch.


“...E quem é você pra dizer se alguém deve ser internado? Eu acho que todos nós somos um pouco loucos de vez em quando.”

Sessenta anos após seu lançamento original, Psicose se tornou algo cuja fama o precede, tornando praticamente impossível que o público que vá lê-lo não já conheça os desdobramentos que essa história irá tomar. Mas isso não é algo que prejudique a leitura pois de alguma forma, o livro se torna uma extensão dessa história e o suspense é tão delicioso que você se envolve da mesma maneira que se envolveria se não soubesse o final. Você simplesmente não consegue soltar aquela história.


“... Aquilo doía nos olhos de Norman e ele não queria olhar. Ele não precisava mesmo olhar, por que já sabia. A Mãe tinha encontrado sua navalha...”

Embora seja quase que completamente fiel, há algumas notáveis diferenças entre o livro de Bloch e o filme de Hitchcock, algo que adiciona uma camada bacana à leitura se você for fã do longa-metragem. Por exemplo, alguns atos de violência são bem mais gráficos (a morte da Mary no chuveiro envolve uma faca de açougueiro por exemplo) e o próprio personagem do Norman é apresentado como um homem de meia-idade desagradável, ao contrário da performance charmosa de Anthony Perkins no filme, dando ainda mais característica para esse estudo de personagem que Bloch tenta construir ao invés de um clássico "whodunnit".


Com personagens bem construídos e uma trama que flui naturalmente ao longo das 250 páginas, ler "Psicose" hoje em dia é perceber que por mais que Hitchcock tenha sido um fator essencial para o sucesso de sua adaptação, a chave dele sempre esteve em sua origem - algo que o diretor viu desde que o leu pela primeira vez. Uma interessante experiência para os fãs do gênero, o livro serve como uma extensão desse universo que você pode ter conhecido em Psicose ou até mesmo Bates Motel, e mergulha ainda mais nos confins da mente de uma figura antológica do gênero, provando que "nós todos podemos enlouquecer de vez em quando".


PSICOSE

1959 (ed. 2013) | 240 páginas

Autor: Robert Bloch

Tradutora: Anabela Paiva

Editora: DarkSide® Books


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