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  • Foto do escritorJoão Neto

[Crítica] Feitiços de Spell não salvam terror do genérico

Atualizado: 17 de fev. de 2021

Marquis (Omari Hardwick) teve uma infância complicada, mas após fugir durante a adolescência e lutar para construir uma vida estável, agora é um grande advogado, casado com uma mulher que ama e com dois filhos na cidade grande. A notícia da morte de seu pai reabre feridas antigas (figurativas e literais), levando-o de volta à região da Appalachia rural onde cresceu para o funeral. No meio do caminho, ele e sua família sofre um acidente de avião e quando ele desperta, está sozinho, com o pé quebrado e sob os cuidados da incisiva Sra. Eloise (a lendária Loretta Devine) e seu marido Earl (John Beasley). Sem conseguir espaço para descobrir o que aconteceu com sua família, Marquis se sente cada vez mais prisioneiro daquele aparente refúgio, tendo que confrontar e abraçar suas raízes que sempre renegou para poder sobreviver.


Não, por mais que pareça, isso não é um remake de Louca Obsessão. Estamos falando de Spell, thriller lançado lá fora nesta última semana bem a tempo do Halloween. Apesar das similaridades com a história de Stephen King, o terror de Mark Tonderai (A Última Casa na Rua) tenta trazer uma nova abordagem pra essa premissa, adicionando elementos ocultos para a trama.


A veterana Loretta Devine dá vida a um papel alá Annie Wilkes, com um twist místico. Sua personagem, Eloise, é praticante de hoodoo (uma tradição popular afro-americana da época da escravidão) e utiliza alguns de seus feitiços realizados com raízes e ervas para manipular o protagonista. Presente no enredo, ainda estão os "boogity", uma espécie de bonecos vodu feitos com partes ou objetos da pessoa.



É um caso meio duvidoso visto que não é de hoje que o uso de tradições religiosas de matrizes africanas em filmes de terror sempre caem num retrato estereotipado (se lembram de A Chave Mestra?). Não é tão diferente em Spell, por mais que o roteiro tente flertar com algumas problematizações que justifique sua abordagem ("por aqui, não temos o Obamacare", diz Eloise em certo momento). No fim das contas, ele mesmo cai no problemático visto que não mergulha tão fundo nas questões raciais e sociais que promete tocar e termina tão preto no branco quanto começou. Uma rápida pesquisa no Google e descubro que o roteirista é um homem branco... Está explicado.


Ao retirar essas tentativas frustradas de tecer qualquer tipo de comentário sobre desigualdade sociais e até mesmo os ecos atuais da escravidão, Spell se mostra um thriller "clássico" com todo tipo de clichê que se tem direito. Por um lado, pode entregar alguns arrepios (destaco uma sinistra cena envolvendo um culto e outra envolvendo o pé do protagonista e um prego enferrujado). Por outro, é derivativo ao ponto de mesmo apresentando elementos novos, ainda parecer estruturalmente com todos os outros filmes desse subgênero e se repetir constantemente dentro de si mesmo. É uma pena que o final seja um pouco positivo demais, pois talvez os momentos em que a história mais se destaca é quando toma rumos cada vez mais pessimistas e pesados.


Mesmo assim, é um filme tecnicamente bem produzido. Há um cuidado visual nele, a fotografia caprichada e a direção de arte acertam em criar um ambiente amedrontador para essa história. A dupla principal, Omari Hardwick e a sempre carismática Loretta Devine, também estão ótimos e em sintonia um com o outro, principalmente nas cenas em que compartilham tela. Ainda com alguns pontos a acertar, Spell pode garantir noventa minutos de suspense se estiver disposto.


SPELL

EUA | 2020 | 91 min.

Direção: Mark Tonderai

Roteiro: Kurt Wimmer

Elenco: Omari Hardwick, Loretta Devine, Lorraine Burroughs, John Beasley


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