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  • Foto do escritorLeonardo Medeiros

[Crítica] Caixa Preta: Reviravoltas não redimem filme com trama derivativa e sustos fracos

Atualizado: 6 de out. de 2021

Black Box é o segundo filme do projeto Welcome to the Blumhouse - parceria entre a Blumhouse e o Prime Vídeo que conta com quatro longas-metragens de horror com lançamento programado para o mês de outubro (você pode ler sobre o primeiro filme, The Lie, aqui) e mais quatro para 2021.


Aqui, a história é focada no fotógrafo Wright Nolan (o ótimo Mamoudou Athie), que sofreu um acidente de carro e não só perdeu a esposa como também sua memória. Com problemas no trabalho devido à amnésia e com dificuldade de se conectar emocionalmente com a filha, Nolan decide participar de um experimento misterioso com a Dra. Miranda Brooks (Phylicia Rashad, de Creed). Utilizando uma tecnologia ainda não difundida, a neuropsiquiatra promete recuperar as memórias perdidas do protagonista. Tratando-se de um filme de terror, as coisas não saem como planejado e Nolan passa a ter visões misteriosas e violentas conforme o tratamento avança. Com isso, Black Box estabelece seu mistério: estaria o subcontinente do protagonista tentando esconder algo sombrio do próprio dono? Ou há algo errado com o experimento? Teria Nolan sido responsável pela morte da esposa?



Esse terço inicial é promissor. O suspense construído em torno do misterioso experimento funciona muito bem e o os realizadores são espertos em posicionar o espectador junto com seu protagonista, tornando ambos aliados ao investigar o que acontece dentro da mente do Nolan. Ao mesmo tempo, o filme passa a flertar com uma discussão interessante sobre luto, que contribui pra enriquecer esse primeiro ato. Há também um cuidado na forma que o estreante diretor e roteirista Emmanuel Osei-Kuffour junto com o co-escritor Stephan Herman estabelecem as peças de um quebra cabeça que promete algo grandioso. Constantemente remetendo à Memento (2000) e Black Mirror (2011-2019) em termos de trama, o filme aproveita bem o desconhecimento do protagonista em relação a quem o cerca para construir tensão, o que acaba desculpando em partes o fato de Black Box ser extremamente derivativo desses e outros filmes. Dificilmente quem assiste deixará de lembra de Corra! (2017) quando Nolan mergulha em seu subconsciente, por exemplo.


É uma pena que, ainda que conte com uma reviravolta inesperada e interessante antes do terço final, o filme não consiga recompensar o investimento realizado pelo espectador até ali. Após essa sequência de revelações (que não pretendo expor nesse texto), o foco da trama muda de forma desajeitada, mas sem se manter interessante e sem o suspense que segurava a narrativa até ali. Somado a esse déficit, Black Box abandona discussões levantadas anteriormente (a abordagem sobre luto) e passa a reciclar a si mesmo ao tentar assustar. O mesmo artifício envolvendo uma criatura quebrando os próprios ossos é repetido (cerca de oito vezes) à exaustão, algo que vai perdendo o impacto e apenas gera impaciência.


Falhando ao tentar concluir de forma interessante os próprios mistérios, resta ao filme uma abordagem frouxa sobre violência doméstica e paternidade para tentar carregar a obra de importância social, mas sempre de forma rasa e sem conseguir trazer qualquer reflexão que valha a pena colocar em texto.


Se contentando em ser uma sombra de Corra! (mas sem a mesma elegância na crítica social) e de Black Mirror (mas sem a ousadia, a violência e o fator choque), Black Box, infelizmente, se torna apenas uma versão cinza e sem vida do que prometia ser em seu início.


BLACK BOX

EUA | 2020 | 100 min.

Direção: Emmanuel Osei-Kuffour

Roteiro: Emmanuel Osei-Kuffour e Stephen Herman

Elenco: Mamoudou Athie, Phylicia Rashad, Amanda Christine, Tosin Morohunfola


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