[Crítica] Rua do Medo Parte 3: 1666 fecha trilogia com caça às bruxas e queer horror
Não sei vocês, mas estou particularmente triste que Rua do Medo esteja chegando em seu derradeiro fim. Após dois capítulos divertidos e intensos, a trilogia da Netflix inspirada nos livros de R.L. Stine estreia sua terceira e última parte, 1666, nesta sexta (16). E se vocês vieram acompanhando não apenas minhas críticas, mas a cobertura do Esqueletos nas redes sociais, já sabe que estamos vivendo por esses filmes. Entre facadas e machadadas, viajamos por diversas matanças do terror, mas para o capítulo final temos um destino um pouco diferente.
Pra relembrar: o último filme nos deixou com Deena (Kiana Madeira) reunindo o corpo e a mão de Sarah Fier, mas quando seu sangue entra em contato com os restos mortais, ela se encontra na pele da própria bruxa em 1666, abrindo caminho para a história que acompanharemos neste capítulo final. Se os outros filmes pegaram emprestado o melhor dos slashers, a inspiração da terceira parte está em um horror completamente diferente: o folk horror.
Com um visual idêntico (talvez até demais) ao de A Bruxa (2015), enquanto narrativamente remete às Bruxas de Salem de Arthur Miller ou O Estigma de Satanás (1971), este segmento pode causar estranhamento por diferir bastante do tom dos outros. É algo mais sério, ainda que tente não perder um pouco da pegada jovem visto que o elenco principal é o mesmo dos dois primeiros filmes, mas interpretando encarnações passadas dos coloniais. O problema é que nesse processo, alguns diálogos do roteiro acabam atingindo algo mais semelhante à paródia de A Vila em Todo Mundo em Pânico 4.
1666 encontra um tom mais adequado quando deixa os preparativos de lado e mergulha na histeria coletiva, fruto da masculinidade tóxica e puritanismo que culmina no destino de Sarah Fier. São nesses momentos que a trilogia entra em seu território mais sombrio, pois é também aqui que ela se revela como intrinsecamente queer, indo bem mais além das duas protagonistas lésbicas na história principal. É bem mais interessante visto que as repercussões desses eventos responsáveis pela maldição em Shadyside acaba fugindo um pouco do esperado e tudo fica mais condizente quando se percebe que todos esses personagens da trilogia vêm lidando com um trauma geracional, em especial Deena e Sam.
Este segmento, no entanto, não ocupa o filme inteiro, mas sim metade da duração. Quando retornamos à 1994 para a sua conclusão, é uma descompressão um tanto esquisita, devido à divergência de tons entre as duas metades e talvez este seja o maior problema do filme. Não é como se tematicamente elas estivessem tão distantes, visto que há espelhamentos entre a história de amor trágica no século 17 e o horror colorido e frenético dos jovens nos anos 90. Mas ainda existem dois filmes diferentes lutando para coexistir dentro dessas 2h.
São nesses momentos que podemos nos questionar: Rua do Medo poderia ser uma minissérie? Sim, e há inclusive alguns pontos de viradas em todos os três filmes que poderiam simbolizar divisões de episódios. Mas a questão é que no caso deste filme em específico, é difícil acertar o meio-termo. Também não sei até que ponto seria um benefício transitar entre as duas linhas do tempo alternadamente visto que poderia prejudicar o ritmo, além de que uma importante informação em 1666 é a chave para que a trama em 1994 volte ao jogo.
O terceiro ato engaja e guarda suas próprias surpresas, com direito a sangue neon e embates acirrados à la Freddy vs. Jason encontrando Esqueceram de Mim, mas há também a ausência de consequências apropriadas à certos eventos da trilogia no geral. Apesar das suas inconsistências, é apostando no elo emocional que une todos esses personagens através das décadas que o filme conclui um projeto ousado com um saldo positivo. E dada a enorme bibliografia da série e a boa repercussão nas redes sociais (além de um ganchinho no pós-créditos), não seria muito pedir pra passar mais um tempinho em Shadyside...
Todos as três partes de Rua do Medo já estão disponíveis na Netflix.
FEAR STREET PART THREE: 1666
EUA | 2021 | 112 minutos
Direção: Leigh Janiak
Roteiro: Phil Graziadei, Leigh Janiak, Kate Trefry
Elenco: Kiana Madeira, Olivia Scott Welch, Benjamin Flores Jr., Gillian Jacobs, Ashley Zukerman, Sadie Sink, Darrell Britt-Gibson, Jordana Spiro
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