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  • Foto do escritorJoão Neto

[Sundance] Run Rabbit Run: um suspense cozido em banho-maria



Acompanhe a cobertura oficial do Esqueletos no Armário no Festival de Sundance 2023.

No início de Run Rabbit Run, a personagem da Sarah Snook conversa com a filha no carro após a criança dizer que sente falta de "Joan" - nome que imediatamente arranca reações da mãe, mesmo que ainda não saibamos o motivo. A garota nem sequer conheceu a tal Joan, aponta ela, mas recebe de volta um sereno e igualmente sinistro: "eu sinto falta de pessoas que nunca conheci o tempo inteiro." Tal frase serve não apenas de mau presságio para a espiral de loucura na qual as duas personagens cairão ao longo da história, mas também como uma cínica ironia de que em algum lugar aqui havia um filme bom (ou pelo menos instigante).


Adquirido pela Netflix após estreia no Festival de Sundance, Run Rabbit Run é acometido por um mal recorrente nos últimos anos, o de filme de gênero dirigido por pessoas que não gostam - ou não querem - fazer um filme de gênero. Rotulado como um "thriller psicológico" (*virando os olhos*), esse longa australiano marca toda a papeleta já esperada: uma protagonista lidando com o luto de perder o pai recentemente começa a enlouquecer quando sua filha exibe comportamentos estranhos. Soa familiar?


Você definitivamente vai pensar no conterrâneo O Babadook (2014) enquanto o assiste. Mas o problema não é a história batida, afinal quando isso impediu alguém? O problema é que aqui encontramos uma versão mais pálida e menos inspirada de narrativas que já vimos antes. Então qual a justificativa de tal existência? Uma meditação no trauma e no luto, um estudo de personagem? Nenhuma dessas alternativas.


Por mais esforçada que Snook esteja em mergulhar na psique fragmentada de sua personagem, ela tem o azar de estar num filme tediosamente previsível. Vale lembrar que Snook substituiu Elisabeth Moss no papel e é impossível não imaginar que com todos os seus tiques e encaradas na tela, Moss ao menos traria um pouco mais de energia ao filme.


Deixas da própria história são continuamente desperdiçadas enquanto a narrativa prepara uma virada que te atinge com a potência e velocidade de um carro passando por um quebra-molas. Os momentos mais interessantes vêm das desconcertantes interações entre Sarah e a filha (uma envolvendo uma tesoura é particularmente angustiante), mas o filme acumula potencial não utilizado cada vez que a diretora decide virar o rosto pro outro lado. Entre referências batidas à Alice no País das Maravilhas e um desinteresse inconveniente em mergulhar em águas mais provocativas, Run Rabbit Run parece um encontro de O Babadook e Reencarnação (2004) em banho-maria.


 

RUN RABBIT RUN 2023 | Austrália | 100 minutos

Diretor: Dana Reid

Roteiro: Hannah Kent

Elenco: Sarah Snook, Lily Latorre, Damon Herriman, Greta Scacchi


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