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[48ª Mostra SP] 'Clube das Mulheres de Negócios' ameaça, mas não morde

  • Foto do escritor: Luiz Machado
    Luiz Machado
  • 31 de out. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 7 de nov. de 2024

Esse texto é parte da cobertura que o Esqueletos no Armário está fazendo da 48º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo como veículo credenciado, dando enfoque na programação que tenha cruzamentos com o cinema de gênero, as temáticas queer e de sexualidade.

No início da sessão de O Clube das Mulheres de Negócios (2024), Anna Muylaert foi para a frente da tela e descreveu seu filme como bruto e “nascido de uma estupefação”, ressaltando ser um trabalho muito diferente do que já fez. “Delírio” foi outra palavra utilizada pela diretora e ela é a chave aqui.


Em um universo paralelo em que a sociedade vive um matriarcado, dois jornalistas (Rafael Vitti e Luís Miranda) visitam o titular Clube das Mulheres de Negócios, um espaço decadente da alta sociedade paulistana. Em uma brincadeira de papéis de gênero invertidos, conhecemos Cesária — já que o feminino de César claramente seria Cesária — a presidente do Clube e avó do personagem de Vitti, interpretada por Cristina Pereira; Norma (Irene Ravache), uma futura candidata à presidência engolida por processos de corrupção e uma belíssima tornozeleira de ouro; Brasília (Louise Cardoso), responsável pelos negócios e pelo dinheiro do Clube — sim, Brasília está com o dinheiro, claramente; Zarife (Katiuscia Canoro), a Bolsonara do filme, com trejeitos e tudo; Yolanda (Grace Gianoukas), uma espécie de Harvey Weinstein com seus 200 processos por assédio, que não estão mais sendo ocultados,uma vez que os homens do mundo estão se unindo; Donatela (Ittala Nandi), uma ninfomaníaca traindo seu marido submisso; Kika (Polly Marinho), uma artista famosa que parece emular certa cantora conservadora com nome de achocolatado; Fay Smith (Helena Albergaria), o mais próximo que qualquer mulher desse filme chega de aparentar uma civilidade — mas por pouco tempo; e a Bispa Patrícia (Shirley Cruz), cujo nome já escancara seu papel dentro desta paródia.


Entre macro e microagressões, os jornalistas tentam arrancar os podres de suas opressoras, mas as coisas começam a sair do controle quando notam que três onças da coleção de Cesária (onas, porque as notas de 50 são onças, entendeu? ENTENDEU?) fogem do cercadinho.


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A crise patriarcal de Muylaert é sátira social de uma piada só. Até arranha complexidades, mas lhe falta dentes mais afiados para tirar sangue. Sutileza não é lema para ninguém aqui e os excessos são muito bem-vindos. Em seus momentos mais inspirados, a diretora se diverte com as pequenas birutices que a inversão de poderes permite; seja Rafa Vitti como uma patricinha que nunca é levada a sério, os maridos troféus renegados a uma vida de inseguranças, ou até a cena de assédio sexual mais inacreditavel que você irá assistir nessa década. Ao mostrar o quão ridículo é justificar essas situações com um simples “e se fosse o contrário?”, o filme brilha com um espetáculo de absurdos que ganham força nas línguas de seu elenco afiadíssimo. Diga-se de passagem, toda linha de diálogo entregue por Katiuscia Canoro arrancou risadas altas e até engasgos durante a sessão.


Porém, o filme desaba quando tenta levar a sério sua paródia, um esforço desastroso que resulta numa cena final de revirar os olhos — não só é fácil, como redundante. Desenha-se para o espectador uma crítica que nem era tão inteligente assim pra começo de conversa. Sim, pode ser muito divertida ocasionalmente, mas então que não se contenha e mergulhe de vez no delírio prometido por Anna antes da exibição. O que sobra depois das risadas honestas é um ponto de interrogação: “foi só isso?”. A mensagem, bastante óbvia, é acima de tudo pífia em um momento tão pós-irônico como o que vivemos hoje. Falta catarse.


É possível dizer, no entanto, que O Clube das Mulheres de Negócios é um filme corajoso. Ver uma diretora tão experiente se divertir com piadas de mesa de bar é verdadeiramente delicioso, mas falta garra; falta se permitir ser mais. Permitir-se entregar à loucura final, ao escárnio, ao espetáculo do ultraje. Onças pintadas de CGI podem até ser perdoadas por oferecerem teor camp, mas se a televisão é desligada antes delas banharem a tela de sangue, para que servem?


Aqui, não ganhamos uma chave de ouro ou a cereja sobre o bolo, e o que sobra abaixo é pouco mais do que um amontoado de cenas ora eficientes, ora nem tanto, mas que dificilmente formam um todo memorável.

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O CLUBE DAS MULHERES DE NEGÓCIOS

2024 | Brasil | 119 min.

Direção: Anna Muylaert

Roteiro: Anna Muylaert

Elenco: Rafael Vitti, Luis Miranda, Cristina Pereira, Irene Ravache, Louise Cardoson, Katiuscia Canoro, Grace Gianoukas, Polly Marinho, Helena Albergaria, Shirley Cruz, Ítala Nandi





2 comentários


Alan Muller
Alan Muller
16 de out.

La propuesta de “Clube das Mulheres de Negócios” suena provocadora y original, especialmente por su enfoque en un matriarcado lleno de ironía y crítica social. Es interesante cómo la película usa el humor y la exageración para cuestionar estructuras de poder y roles de género. Esa mezcla de fuerza y precisión me recuerda al funcionamiento de los us motors, diseñados para ofrecer rendimiento constante incluso en los entornos más exigentes, tal como esta obra desafía lo convencional.

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Alexios Riner
Alexios Riner
23 de set.

O filme realmente parece um grotesco da nossa realidade — às vezes engraçado, às vezes exagerado demais. Mas, sinceramente, histórias absurdas assim lembram que na vida também tudo se inverte: mulheres no filme dominam o mundo, enquanto nós na realidade pensamos em como guardar nosso dinheiro. Teve um momento em que me peguei no intervalo checando preços e lembrando como hoje é fácil usar https://paybis.com/pt/ e até comprar bitcoin com cartão de crédito sem carregar dinheiro físico. Cinema e vida sempre se cruzam de formas estranhas.

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