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  • Foto do escritorJoão Neto

[Crítica] Anne Hathaway é a desculpa perfeita para ver o novo Convenção das Bruxas

Atualizado: 17 de fev. de 2021

Creio que deveria ter cerca de sete anos quando vi pela primeira vez a icônica cena da Anjelica Huston arrancando a própria pele e se revelando uma criatura horrenda em Convenção das Bruxas (1990), durante uma das tardes do Cinema em Casa no SBT. Exatos trinta anos depois do seu lançamento, a história ganha um novo tratamento, uma nova adaptação do livro que o originou: "As Bruxas" de Roald Dahl. A primeira versão, dirigida por Nicolas Roeg (Inverno de Sangue em Veneza, O Homem que Caiu na Terra), cresceu no imaginário de muitas crianças mas foi controversa com o próprio autor por alterar o final original e dar uma conclusão mais feliz para a história.


A nova versão, que reúne grandes nomes por trás como Guillermo Del Toro (O Labirinto do Fauno) e Kenya Barris (Black-ish) no roteiro, Alfonso Cuarón (Gravidade) na produção e Robert Zemeckis (De Volta Para o Futuro) na direção, promete não apenas apresentar a história clássica para novas audiências, mas também trazer um pouco de justiça ao material original. Mas afinal, deu certo?


Assumindo os sapatos de Huston está Anne Hathaway, interpretando a líder de um clã de bruxas com um plano maligno de exterminar todas as crianças do mundo. Reunídas em um hotel luxuoso, elas são descobertas por um jovem órfão (Jahzir Bruno) e sua simpática vó (Octavia Spencer), cabendo a eles a missão de pará-las antes que seja tarde demais. Rodeando o cast ainda está Stanley Tucci como o gerente do lugar e até mesmo Kristin Chenoweth emprestando sua voz para uma ratinha.



Em sua essência, o enredo é exatamente o mesmo e a adaptação se mostra fiel à obra de Roald Dahl (autor conhecido por também criar livros infantis marcantes como "A Fantástica Fábrica de Chocolate" e "Matilda"). Mas a crítica e até mesmo o público geral não parecem ter caído nas graças da nova convenção das bruxas. Muitos fatores contribuem para isso, mas talvez o que mais tenha pesado é a nostalgia. E aqui que entra minha opinião: tive a oportunidade de rever o filme de 1990 ano passado, pela primeira vez em ANOS e, mesmo com a consciência que estaria prestes a assistir algo que não foi feito para a minha faixa-etária atual, me pareceu inegável que o clássico não havia envelhecido tão bem assim.


Visualmente, é um deleite ver a Anjelica Huston vilanesca com olhos roxos e uma maquiagem impecável e totalmente prática, algo que sem dúvidas traumatizou uma geração de crianças. Mas tirando isso, não me senti tão envolvido na história no geral e só pude entender o motivo disso assistindo a este remake. O novo Convenção troca os cenários europeus pelo interior do Alabama, nos anos 60, dando uma nova perspectiva aos personagens principais e toda esta introdução é realizada de uma forma linda nos primeiros 30 minutos de filme. Octavia Spencer traz uma doçura muito específica para a personagem da avó e, junto com seu parceiro mirim de cena, o novato Jahzir Bruno, torna muito fácil a conexão deles com o público e isso fez uma grande diferença para mim.


Em seguida, temos talvez o maior triunfo deste projeto: a eterna rainha sempre, a MULHER! Anne Hathaway brilha como a Grande Bruxa numa performance histérica, caricata, ridiculamente afetada e que nunca em momento algum procura emular o que foi feito pela Huston. Dando seu próprio twist para a personagem, fica evidente que a atriz estava se divertindo horrores durante as gravações e isso reflete em todas as cenas em que ela aparece.



Dito isso, o CGI é um pouco agressivo. Há muitos efeitos que poderiam ter sido realizados de maneira mais prática e visualmente, não é tão impactante quanto as próteses fantásticas da outra versão. No entanto, tenho que comentar que o resultado não é tão desastroso quanto poderia ter sido, dado ao histórico do fascínio bizarro de Zemeckis por computação gráfica (quem lembra da trilogia criminosa em motion capture formada por O Expresso Polar, Beowulf e Os Fantasmas de Scrooge?). Os ratinhos ficaram carismáticos e o roteiro completa com o coração que a história necessita.


Sim, provavelmente o novo Convenção das Bruxas não irá marcar - leia-se traumatizar - uma nova geração de crianças. Mas é uma adaptação bem intencionada (embora o plot gordofóbico do Bruno hoje em dia não funcione tão bem assim) que resgata um pouco do brilho da obra original, nos dando também a oportunidade de ver Anne Hathaway surtar num papel deliciosamente cartunesco e 1h de Octavia Spencer falando sozinha com os ratos em sua bolsa.


CONVENÇÃO DAS BRUXAS

EUA | 2020 | 105 minutos

Direção: Robert Zemeckis

Roteiro: Robert Zemeckis, Guillermo Del Toro, Kenya Barris

Elenco: Anne Hathaway, Octavia Spencer, Jahzir Bruno, Stanley Tucci, Kristin Chenoweth, Chris Rock


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