[Crítica] O horror do Hotel Cecil vai além de fantasmas no novo documentário da Netflix
- Junno Sena

- 23 de fev. de 2021
- 2 min de leitura
"Você sempre está sendo perseguido pela ideia de estar desperdiçando a sua vida”, Chuck Palahniuk.
Com uma única frase, Chuck, o autor de Clube da Luta, consegue descrever o horror e lamento da história de Elisa Lam. Uma jovem promissora que se viu no centro de alinhamentos incomuns e uma história que, mesmo solucionada, ainda consegue dar calafrios na internet.
Não é difícil esbarrar com essa história. Desde 2013, o vídeo da jovem no elevador, com seus movimentos erráticos, falando com o nada e se escondendo, tomou conta de diversos grupos de discussão e canais dedicados a mistérios paranormais e assassinatos. Os eventos que se sucederam após a morte de Elisa, os horrores e conexões feitas com como seu corpo foi encontrado pelas autoridades e as investigações independentes podem ser melhores compreendidos na nova série documental da Netflix, Crime Scene: The Vanishing at the Cecil Hotel.

Mas, mesmo com a maior parte dos pingos dos “i’s” postos na mesa, existe muito mais ao redor dos protagonistas dessa história: Elisa e o próprio Hotel Cecil. Postos no centro de um bairro mergulhado na pobreza e violência, entre estratégias de gentrificação e com um “boom” cada vez mais marcado da internet, ao decorrer dos episódios da série, parece inevitável que o encontro da jovem e do hotel terminaria em uma tragédia.
E o horror contado pelas paredes do Cecil vão além de fantasmas empoeirados, mas falam sobre seres humanos. Mesmo que a Netflix se empenhe em dar um ar atmosférico e terrível para o hotel, nos fazendo lembrar da inspiração de American Horror Story: Hotel, o gosto amargo que fica no final é o erro de como todos parecem esquecer que essa é uma tragédia sobre vítimas.
Sobre uma jovem que teve os cuidados ignorados pela gerência do hotel, sobre os pais que perderam uma filha, sobre um homem injustamente condenado e “cancelado” pela internet, sobre uma população de rua ignorada como se fosse um chiclete grudado na calçada.
Em determinado momento do enredo — em que insiste em tentar nos tirar calafrios e fazer com que o espectador caia facilmente na falácia “teoria da conspiração até que se prove o contrário” — nos é dito que o caso de Elisa Lam é repleto de coincidências alinhadas perfeitamente.
Desde o nome de Elisa, até o vídeo do suposto assassino, até o lugar onde o lugar e estado que o Cecil se encontra. Mas não é. O que parecem coincidências, no fim da história são só teorias, tentando manter um mistério vivo, esquecendo as dores provocadas pelo próprio “mistério”.
É curioso olhar para o caso de Elisa Lam agora e entendê-lo como resolvido enquanto ainda o alimentamos como mistério. Mas é ainda mais curioso perceber que grande parte dos eventos que se seguiram a essa tragédia continuam presentes e vivos.
Desde o peso constante de que os jovens devem “fazer algo com suas vidas”, até os descaso com problemas neurológicos e como constantemente ignoramos as camadas mais pobres da população. Parece anacrônico olharmos para um caso americano e procurar semelhanças com a nossa sociedade atual, mas também parece errado não perceber as similaridades. Como todos parecem estar lutando para não falhar com o próximo.

CRIME SCENE: THE VANISHING AT THE CECIL HOTEL
Minissérie | Netflix | 4 episódios
Direção: Joe Berlinger

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