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  • Foto do escritorJoão Neto

[Crítica] Slasher dos anos 90 revive em Rua do Medo Parte 1: 1994


Antes mesmo de emplacar e estabelecer a própria marca com Goosebumps, R.L. Stine já se aventurava no universo do horror infantojuvenil em Rua do Medo, série literária que gerou mais de 50 edições onde jovens se encontravam em meio a mistérios de assassinatos e ocasionalmente alguns flertes com o sobrenatural. Embora Goosebumps tenha ficado gravada na cultura pop através do sucesso dos livros, além das adaptações televisivas e cinematográficas, Rua do Medo só ganhou sua adaptação trinta anos após seu primeiro livro. Em compensação, não apenas em um filme, mas sim numa extremamente violenta e neon trilogia.


Nesta sexta-feira (2/7), estreia na Netflix a primeira parte, 1994, na qual somos apresentados à cidade de Shadyside na década de 1990. Após uma noite no shopping local terminar em uma pilha de corpos, os jovens da cidade automaticamente assumem ser mais um trabalho de influência da maldição de Sarah Fier, uma jovem bruxa do século 17 que supostamente amaldiçoou as terras antes de ser enforcada. Embora nem todos acreditem nisso, o nosso grupinho de adolescentes principal acaba percebendo que existe sim um fundo de verdade nesta lenda urbana.


É tomando inspiração no tom aventuresco das histórias de terror infantojuvenis que a diretora Leigh Janiak, responsável por toda a trilogia, subverte as expectativas de como se fazer um horror adolescente e ao invés de encontrar um meio-termo palatável e acessível para audiências mais jovens, resolve mergulhar de cabeça nas suas maiores influências: os slashers.



Desde a abertura emulando a icônica cena de morte de Drew Barrymore em Pânico, à fantasia barata (mas igualmente eficiente) do assassino à trilha sonora deliciosamente noventista do Marco Beltrami (que também assinou os arranjos da franquia Pânico), fica claro e evidente que o clássico de Wes Craven é o principal perfil de inspiração para Rua do Medo: 1994 e isso automaticamente se torna o maior atrativo para os fãs do subgênero.


Embora não seja abertamente metalinguístico feito Pânico, existe uma dose particularmente deliciosa de autoconsciência em Rua do Medo. As referências não são verbalizadas, mas estão inseridas no DNA do filme para construir sua própria mitologia - de uma maneira que me remete bastante à premissa do jogo Dead by Daylight. O filme é consciente e se aproveita do seu público também estar consciente para tornar a experiência mais completa.


E é dessa maneira que Janiak arrebenta com uma direção segura e cheia de bagagem. Ela já mostrou potencial em seu filme de estreia Honeymoon (2014), mas é aqui que ela demonstra o quão entende seus personagens e o subgênero que está homenageando ao criar uma atmosfera deliciosamente empolgante de slasher. O filme acerta por não poupar na violência (é bem mais sanguinolento do que eu esperava), cenas de perseguição bem elaboradas e uma crueldade deliciosa que só esse tipo de filme pode gerar. Quero inclusive deixar um destaque especial para Kiana Madeira e sua protagonista, Deena, pois nada melhor que uma final girl talentosa, proativa e queer.



O roteiro co-assinado por Janiak e Phil Graziadei por vezes parece um pouco didático demais ao tentar estabelecer o world-building da trilogia. Essa exposição excessiva de informações acaba criando também algumas inconsistências na trama, mesmo ele se apoiando em algumas conveniências um pouco fantasiosas demais para andar. Porém isso consegue ser facilmente relevado pelo próprio filme claramente não levar em consideração as consequências de algumas ações. Não é nada que atrapalhe já que alguns pontos de interrogação deixados pelo roteiro são ignorados à facadas. Em compensação temos personagens genuinamente interessantes auxiliados pelo elenco carismático. Afinal, se vamos sentir suas mortes, eles precisam ser bons, certo?


Extremamente ágil, por vezes chocante, esperto o suficiente para não cair na armadilha de nostalgia barata e divertido o suficiente para te deixar ansioso para o próximo capítulo, Rua do Medo: 1994 é um início sólido para essa trilogia ambiciosa e nos entrega o melhor do slasher adolescente que tanto ansiávamos. É um presente (ensopado de sangue) para os fãs do gênero.


FEAR STREET PART ONE: 1994

EUA | 2021 | 107 minutos

Direção: Leigh Janiak

Roteiro: Leigh Janiak, Phil Graziadei

Elenco: Kiana Madeira, Olivia Welch, Benjamin Flores Jr., Julia Rehwald, Fred Hechinger, Ashley Zukerman, Maya Hawke


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